A LIÇÃO DA BORBOLETA
Rosana Carneiro – São Paulo
O vento, naquela manhã de outono soprava frio.
Minhas asas ainda estavam amarrotadas conta do casulo
apertado e protetor.
O sol queria despontar, mas o vento empurrava aquelas nuvens
para cobrir o calor que ele queria transmitir.
A moça na janela assistia e contemplava a natureza com um
leve sorriso nos lábios, cantarolando uma canção do passado, que lhe remetia
recordações ternas de manhãs calmas e tranquilas como aquela.
Eu, naquele meu torpor, queria sair. Devagar esticava como
podia, sem pressa, aquelas que me dariam a graça de sobrevoar o tempo e o
espaço que descortinava naquele mundo novo e tranquilo que rodeava minha vida.
Suspirei e tentei me acalmar. Afinal, renascer não era
fácil.
Adormecer profundamente, por um longo período, fez-me querer
alçar voos mais e mais altos.
Um raio de luz cintilante cobriu uma das asas, como se Deus
despejasse ali um bálsamo e então pude esticar totalmente uma de minhas asas.
Doeu.
Doeu porque aquele
costume de ficar encolhida teve que desaparecer.
Eu tinha que ter
forças e ânimo para recomeçar a viver novamente.Um longo período dentro de um
mundo sem grandes perspectivas era confortável, pois eu não teria que me
esforçar pra nada.
O vento forte do outono, rachou o casulo em que eu adormecia
e eu precisei sair daquele comodismo e enfim, voar para a vida.
Não era fácil passar por transformações assim, tão radicais.
O mundo desconhecido, porém belo e atrativo, me convidava a
sobrevoar e encontrar fontes de energia, equilíbrio, paz...
Forcei mais um pouquinho, enquanto a moça preparava o café.
Aquele aroma doce invadiu o ar e eu suspirei forte. Mais um
pouquinho e a outra asa se esticaria.
E eu não tive medo. Forcei.
Consegui me livrar de mais um pouco e o vento balançou mais
uma vez as folhas e os galhos e eu vi como era importante tentar.
Fiz força. Fechei os olhos. Respirei fundo e com todas as
forças que Deus me deu, me livrei daquilo que me fazia sufocar.
A moça voltou à janela com a xícara na mão e me olhou.
Eu fiquei com medo, porém tive forças de encarar o mundo que
me esperava e ergui as asas.
Sacudi devagar e pronto. Estava pronta para voar.
A moça sorria, admirada, feliz.
Eu me senti confiante e num impulso, saltei para a vida e
fui viver cada minuto como se fosse a última vez que voaria.
A moça?
A moça olhou para o céu e disse: Obrigada Senhor! Esta
borboleta foi forte e conseguiu voar e sair pelo mundo. Se uma borboleta
consegue, por que eu não conseguiria?
Assim ela se sentiu borboleta e também voou.
Lindo sensível e verdadeiro
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